Fazer pouco de quem é pobre.
Pegar em 11.500 euros e comprar ovas de peixe. Boa ideia? Para a grande maioria, nem por isso. Mas há quem o faça, e quanto mais caro melhor. Quem o diz é Bruno Costa, diretor da Iguarias d'Excelência, ele que já foi corretor na City de Londres, mas depois decidiu optar por algo mais calmo... e ainda mais luxuoso. Caviar.
Bruno Costa tornou-se importador e representante de uma conhecida marca de caviar que consegue trazer a Portugal ovas de esturjão acabadinhas de enlatar, desde a França ao Mississipi, passando pela China e pelo Irão.
Uma viagem pelos sentidos que Bruno Costa descreve: "O caviar do Mississipi é mais escuro e também o mais barato. É de água doce e ronda os 1500 euros/quilo", começa. "Depois, temos o caviar de Aquitaine, francês da região de Gironde, que também não é selvagem. Este produto era originalmente da Rússia, da região da Sibéria e era um caviar barato, até que os irmão russos o colocaram no Ritz nos anos 1920 e passou a ser um produto de luxo", prossegue.
Enquanto fala, Bruno Costa vai abrindo pequenas latas de caviar, que distribui com parcimónia pelos vários convidados da noite, clientes que vêm para jantar no The Ocean, o restaurante duas estrelas Michelin do hotel Vila Vita, no Algarve, gerido pelo austríaco Hans Neuner. E por opção, para os verdadeiros amantes das raras ovas de esturjão, Bruno decide colocá-las do modo mais natural: nas costas da mão.
"Desculpem, mas esta é uma das formas mais simples e mais apreciadas de degustar caviar, por isso se não se importam estendam um pouco as vossas mãos", solicita.
Haveria, claro, outras formas de experimentar esta preciosa raridade, que não entusiasma todos da mesma forma. Com tostas ou bolachas salgadas, com ovo cozido e cebola picada, com creme fraiche ou até só com vodka fresca. Negativo seria testá-lo com uma colher de aço inoxidável ou mesmo até de prata, porque podem distorcer o sabor.
À falta de melhor, uma colher de ouro ou de madrepérola serviriam, mas aqui optou-se mesmo por comer da mão.
Caviar made in China? Sim, e é bom.
Bruno Costa retoma as explicações para nos levar agora até à China, mais concretamente até ao Lago das Mil Ilhas, na província de Zhejiang, no leste. É de lá que vem o caviar made in China, do tipo Kaluga. Mas não se pense que é barato. Desde 1997 que os chineses começaram a importar ovos fertilizados de esturjão a partir da Sibéria e a criá-los no rio Heilongjiang, no nordeste da China.
Muitos morreram entretanto devido a mudanças de temperatura no lago, até que os chineses acertassem com um método para controlar a temperatura da água, que deve estar sempre entre os 15 e os 23 graus centígrados. A solução foi bombar água de profundidade, mais fria, quando o tempo aquece.
Mas ainda assim é difícil identificar quais os machos e as fêmeas de esturjão, sendo que estas últimas têm as ovas mais apetecidas. "Os ovos podem ser extraídos apenas durante os primeiros 11 semanas do esturjão do estágio de maturidade 4, isto é, durante o oitavo ano de sua vida", disse Wang Bin, um cientista da Academia Chinea num artigo da agência Xinhua sobre a criação de esturjão na China. "Isso é muito difícil de dominar. Se tirados um pouco cedo demais, os ovos não são ricos o suficiente, se for muito tarde os ovos secam", explica o cientista.
Daí que, ao contrário de outros produtos chineses, neste caso o caviar vindo da China ronda entre 5000 e 5500 euros/quilo.
O produto alimentar mais caro do Mundo
Por fim, o Beluga, originalmente do Irão. É o produto alimentar mais caro do mundo, seguido da essência de açafrão e das trufas brancas. Custa 11.500 euros cada quilo.
"No Irão, é o melhor dos locais para o esturjão selvagem, porque as águas são quentes à superfície e frias no fundo", explica Bruno Costa, enquanto mostra e dá a provar amostras do caviar mais caro do mundo. "A qualidade do caviar define-se também pela cor. Vai do mais escuro para o mais claro, sendo que o mais claro como este, que é acinzentado, é o melhor", garante.
Na Europa, está proibida a venda do caviar selvagem, por causa do carácter de espécie ameaçada que define atualmente o esturjão Beluga. "Não se preocupem, que este veio da Holanda". A Holanda é como a China. Por lá parece haver de tudo, pelos vistos até produção de caviar.
A demonstração de caviar decorreu no restaurante The Ocean, do Vila Vita, à margem do evento A Rota das Estrelas. O jantar juntou os chefes Dieter Koschina (Vila Joya), Ricardo Costa (The Yeatman), Benoit Sinthon (Il Gallo D'Oro) e Hans Neuner (Vila Vita), todos eles com estrelas Michelin.
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