Talvez o meu amigo tivesse razão…Talvez…
Um dia - quando a madrugada se aproximava e o dia se vencia: cansado, gasto, morto, derreado, perdido, pedindo por se despedir rapidamente, tal a quebreira que o atingira, - um amigo que muito prezo disse-me algo que eu sabia há muito, muito tempo mas não esqueci:
- «Quem faz o combate, quem alimenta a chama, paga um preço muito elevado. Há muito que sou sabedor desta realidade. Este é o princípio, a regra. Daí não existirem equívocos, ingenuidades em toda esta caminhada. Há, sim, que assumir a crua leitura do desenho das coisas e dos interesses ou melhor, das hipocrisias da política e da vida.»
Curioso foi a forma curiosa como o meu amigo achava as coisas. Ele achava que o melhor que lhe podia acontecer na vida era fazer «um hiato» na política. Mas essa inevitabilidade, esse «hiato», não sucedia da mera casualidade ou da mera consequência disto ou daquilo. Não. O meu amigo considerava mesmo imprescindível cometer essa heresia e desenhar no seu quotidiano o tal «hiato na política».
E porquê?
- «Entenda, meu caro amigo, pois é muito fácil de entender, só lhe reconhecem o valor, o seu real valor, quando está ou estiver longe da máquina partidária ou é mesmo avesso a essas tretas do partido ou dos partidos. Na caminhada para o poder, quando surge a hipótese de alternância, essas caraterísticas tornam-se atraentes, sugestivas, apelativas e motivadoras. Mesmo estando dentro, é sempre aliciante parecer que se está fora ou distante ou, melhor ainda, se posiciona em alas e pensamentos diversos e se é o elo unificador das diferentes correntes de ideias e interesses. Acredite. Ainda me há de dar razão.»
Talvez o meu amigo tivesse razão…Talvez…
In Diário, 31 de Agosto de 2009