«A política não é mais do que um caminhar constante por um ideal e por um sonho, por uma alternativa e por um projeto diferente. O jornalismo nunca deve estar preso a nada a não ser à verdade. Esse é o meu lema.»

 

Um dia contaram-me uma história e eu no fim esvoacei um sorriso. Já lá vão umas décadas. Entendi que ali havia falta de coragem. Quem me contou a história manteve a impassibilidade e reafirmou que ninguém aceitava a «tarefa» de bom grado. Voltei a sorrir.

 

A história que me contaram resume-se a pouco ou a nada. E reza assim: «Num jornal de uma localidade deste país plantado à beira-mar os jornalistas mais velhos tratavam dos temas de âmbito geral, deixando aos mais novos ou aos estagiários as questões mais prosaicas e de âmbito local. E as notícias de âmbito local, as que se relacionavam com política local, ninguém as queria, havendo necessidade de proceder a uma quase eleição para indicar o ‘coitado’ que ia fazer esse desgraçado trabalho.»

 

Creiam que ouvi incrédulo e voltei a sorrir. Que raio!

 

O quarto poder nem sempre é poder. Foi o que esse amigo me quis transmitir. E quis dizer-me mais: a proximidade origina problemas diversos e torna o quarto poder num domínio do poder.

 

Voltei a sorrir.

 

No seu subentendido havia ainda uma mensagem bem mais subliminar. E a que havia necessidade de tomar nota: o jornal era local, logo os jornalistas eram naturais da localidade, havendo uma ramificação de interesses ao poder vigente, coartando as veleidades de um qualquer assomo, pois nunca se sabia o que o futuro poderia oferecer. Na vida nada é estático.

Assim sendo, o jornalista ou os jornalistas adstritos à secção local, percebiam desde o primeiro dia que não se podiam esticar, evitando pisar ramo verde.

Voltei a sorrir.

 

O meu amigo mantinha a impassibilidade inicial sem entender o meu sorriso. Intrigado, questionou-me:

- «Acha que pode ser diferente? Acha que pode lutar contra poderes e interesses instalados?»

 

Voltei a sorrir. E respondi:

 

- «A política não é mais do que um caminhar constante por um ideal e por um sonho, por uma alternativa e por um projeto diferente. O jornalismo nunca deve estar preso a nada a não ser à verdade. Esse é o meu lema.»

 

E voltei a sorrir perante a estupefação do meu amigo.