Nem soube porque ganhou.

O Comendador da Rampa, Roberto Souto, general de carreira, e detentor de um título de nobreza que ganhava raízes na memória do nascimento do país, vislumbrava o rio na pachorra do dia que definhava, apreciava a ternura e vida na sua eterna indolência.

Na verdade é que nunca chegara a compreender o processamento de determinadas estruturas vitais em determinados organismos ou seres ditos superiores ou racionais que perante determinadas circunstâncias se deixavam levar, ou enlevar, por mirificas ideias de encantamentos sustentadas nas mais puras alucinações de aparentes e estranhas ideias preconceituosas de que a ignara ignorância ainda persistia e a plateia batia palmas a uma sapiência de fato.

Ainda há dias presenciara aquela cena inusitada do Carlindo Maia, arquiteto e político. Coitado, mal ele sabia que eram aplausos de puro gozo, de um sadismo maquiavélico, de um prazer medonho, esperando apenas o dia e a hora fatídica para lhe atenuar a dor e terminar com todos os males de vaidades e presunções de saloiice herdadas dos seus avoengos e de que nunca se libertou.

Carlindo Maia é arquiteto e homem simples e político. Trepou a pulso na vida e na política. É maquiavel puro. Ou talvez pior. E é presidente de câmara de Olhos de Sol. E agora acabou-se o seu tempo.

Acabava-se.

Carlindo Maia decidiu ser presidente de junta. Que estranho! Nada estranho! Se vencer vai ser presidente de junta de uma junta que engloba quinze juntas! E terá tanto poder como o presidente de câmara. Percebido. É assim Carlindo Maia.

O Comendador da Rampa deixou de entender Carlindo Maia. Também deixou de entender os seus antigos apoiantes. Agora não o apoiam. Agora apoiam José Joaquim, o candidato à câmara de Olhos de Sol e a uma ordem de José Joaquim abatem Carlindo Maia. É por estas e por outras que o Comendador da Rampa pouco ou nada entende.

José Joaquim não esconde o claro desejo de ver Carlindo Maia derrotado. A mesma veemente intenção é partilhada por Carlindo Maia relativamente a José Joaquim.

Ontem, no Café Olhar o Sol, o Comendador da Rampa olhou perplexo o povo que ali tomava café. Não falavam em votar no Carlindo Maia ou no José Joaquim, o nome que ouviu sem cessar foi: Gustavo Casimiro, o cabeça de lista do movimento independente. Sorriu.

E foi de sorriso aberto que assistiu à vitória de Gustavo Casimiro, um candidato que nem soube porque ganhou.

 

 

 

 

 

publicado por José Carlos Silva às 12:51 | link do post | comentar