Noitada de Santo Tirso

 

Nesse sábado esperou que a missa terminasse e esperou-a. Viu-a sair com os pais. Descia a escadaria que se oferecia logo após à vetusta igreja de Meinedo. Igreja velhinha, do séc. XIII e que foi edificada sobrepujando um cenóbio Visigótico e onde há também outros vestígios ainda de outros povos: mouros e outros.

Acompanhava os pais. Graciosa e sorridente. Adivinhou que seria aquela a sua noite da sorte. O sorriso abria-se num encantamento noturno, como um por de sol breve mas sedutor. Ele esperava-a e quando ela terminou de contar os degraus da escadaria, aproximou-se e enlaçou-se o sorriso, aprisionou-lhe o olhar e envolvendo-lhe os dedos nos seus dedos, sussurrou-lhe «Amanhã à três horas da tarde, em tua casa.»

Ela nada disse, olhou-o como se a noite se tivesse incendiado e prometeu-lhe a felicidade. Sentiu-lhe o corpo eletrizar-se num breve desfalecimento de loucura.

Envolvia-os a noitada, a noitada de Santo Tirso. Caminhavam. Caminhavam, a mão direita dela enlaçada na mão esquerda dele, olhavam em frente, o olhar de cada um espelhando um sorriso de felicidade, o mais completo e extraordinário sorriso de felicidade; caminhavam, indo ao encontro dos outros mas só eles é que importavam.

 

A noitada de Santo Tirso era de arromba. Naquele sábado fechava o espetáculo o Toni Carreira. Meinedo enchera-se. Parecia um ovo.

Subiram ao cume do monte fronteiro ao salão paroquial. Presenciaram o espetáculo sem paixão. Aquele não era o seu estilo de música preferido.

Amaram-se como o fogo do desejo do olhar, com o toque das mãos e do roçar dos corpos na inocência da noite, pois a promessa só o dia a cumpriria.

publicado por José Carlos Silva às 22:33 | link do post | comentar